terça-feira, 17 de maio de 2011

Papo Rápido: com Geraldo Bastos

Geraldo Bastos é militante do movimento social desde muito jovem. Participou da Pastoral Operária, na década de 1980. Na década de 1990, esteve a frente de um dos primeiros núcleos da Ação da Cidadania, fundou o primeiro Pré-Vestibular para Negros e Carentes de Nova Iguaçu e foi assessor do vereador Artur Messias. Atualmente é formado em Gestão de Recursos Humanos e é presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro de Nova Iguaçu.



Você é o presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro de Nova Iguaçu, em seu primeiro mandato. O que é e quais os objetivos do conselho?

Apesar do COMDEDINE ter sido criado em 2005, somente em 2009 que a Secretaria de Governo, através da COPPIR realizou uma conferência para a composição deste conselho e só um ano depois (2010) é que foi eleita a sua primeira Diretoria Executiva, onde eu fui eleito Presidente do COMDEDINE.
O Conselho é uma espécie de guardião da integridade e direitos dos negros, é onde averiguada uma violação contra a população negra, ele entra em ação para a defesa e a promoção da igualdade de condições para esta população. Mas não ficamos parados esperando uma denúncia, durante o nosso Mandato fizemos debates, audiências, denúncia, reuniões e reivindicações. O conselho é onde discutimos políticas públicas de educação, saúde, assistência social entre outras que visam valorizar e criar condições dignas para os afro-brasileiros, sobretudo na luta contra o racismo e contra a discriminação. 

Qual a composição do conselho? Os membros governamentais e não-governamentais?

O Conselho atualmente é composto de quinze entidades, sendo nove não governamentais e seis governamentais.
Os membros governamentais são as secretarias de: educação, trabalho, saúde, governo, cultura e coppir.
Já os membros não governamentais são GESTAR– Grupo de Estudo e Ação Racial, o qual represento, o CENTRO SOCIAL INZO RIA, a COMUNIDADE ASSISTENCIAL CHICO MENDES, a Casa Raiz do Benguê Ngola Djanga Ria Matamba, o CENTRO CULTURAL DOM BOSCO, o CENTRO DE DIREITOS HUMANOS DOM ADRIANO HIPÓLITO, o MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO, o TERREIRO RAIZ e o Grupo 28 de Junho.

Sabemos que a atuação dos conselhos municipais não tem sido uma prioridade nos municípios da Baixada. Quais as dificuldades e desafios você tem enfrentado a frente do COMDEDINE?

A nossa luta é muito antiga na formação de movimentos sociais que busquem promover políticas públicas e fiscalizar o Pode Executivo. Uma das dificuldades é discutir política de promoção de igualdade de direitos fora do processo eleitoral. Acabado o processo eleitoral há um esvaziamento nestas discussões, porém o preconceito, o racismo a realidade da população negra não dorme, está aí e precisam ser enfrentadas no dia a dia.
Os conselhos que possuem estrutura mínima de funcionamento são aqueles que o executivo depende deles para repasse de verbas e para aprovação dos convênios, como os Conselhos de: saúde, educação, assistência social, este conselhos têm outras dificuldades nas suas lutas, mas o Conselho do Negro está em seu primeiro Mandato e sua principal luta é buscar o reconhecimento social e tornar as políticas públicas para a população negra elemento transversal entre todas as secretarias.

Quais foram as principais ações do Conselho?

Eu sou o primeiro presidente do COMDEDINE em Nova Iguaçu, a eleição foi um processo difícil e logo neste período uma das ações foi unificar ações de sensibilização sobre a importância do COMDEDINE na construção de um projeto para a cidade. Depois tivemos atuação voltada para que a COPPIR não fosse extinta, em audiência com a Prefeita Sheila Gama no ano passado ela nos reiterou o compromisso com a sua manutenção.

Estivemos atuante no caso do Merendeiro Moiséis que foi discriminado pela Câmara Municipal, fizemos a denúncia inclusive na imprensa, abaixo assinado e junto com nosso apoio o processo contra a Câmara está sendo vitorioso.
Através do nosso convite, recebemos em Nova Iguaçu o Professor Keith Jennings membro do National Democratic Institute, de Washington D.C. Ele foi Diretor da Anistia Internacional, na Capital norte-americana e membro Diretor da Human Rigths, de Atlanta(Georgia), além de Professor da Georgetown University.  Que fez uma palestra “Direitos Humanos – Racismo e Juventude “para vários convidados ficando a possibilidade de desdobramentos para um intercâmbio de educação e cultura entre Nova Iguaçu (Brasil) e Atlanta (EUA)
Neste primeiro momento foram importantes as ações do COMDEDINE para dar visibilidade política ao conselho.
Hoje o COMDEDINE é uma realidade em Nova Iguaçu e certamente irá se firmar como um instrumento social de colaboração na construção de uma cidade mais humana. O importante é sensibilizar a sociedade contra o racismo, como disse o Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando e se aprendemos a odiar, também podemos aprender a amar”.

2 comentários:

  1. Os movimentos sociais ambientais e por igualdade racial e étnica estão, mais do que nunca discutindo e aprofundando relações no tangente aos mecanismos estabelecidos de separatismo, segregação e expropriação de seus territórios e costumes.
    O termo "racismo ambiental", cunhado por um norte-americano que ao estudar a localização de empreendimentos perigosos, tóxicos ou poluentes, tanto pela iniciativa governamental e privada, constatou que se localizavam sempre próximos as populações ou minorias de origem negra, indígena, latina, bairros operários, etc.
    No Brasil e em especial nos municípios da Baixada Fluminense temos procedimentos clássicos que nos remetem justamente a este cenário. Temos para nossa região um planejamento estratégico de desenvolvimento que municiado por um discurso da promoção de empregos e renda, que não respeita aspirações básicas de igualdade sócioambiental, como no caso do CTR adrianópolis, CTR Sta Rosa (Seropédica), CSA thyssenkrupp, PCH Paracambi, Porto Sudeste, Siderúrgica Gerdau, UTE Petrobrás, e outras em fase de licenciamento prévio no INEA.

    Num período de tempo de até 20 anos estes exemplos de "desenvolvimento" estabelecerão territórios onde a expropriação da identidade social desestruturará profundamente a escalada rumo a sustentabilidade social pelo qual tanto gritamos e nos mobilizamos. Tudo sob a égide de um modelo de governo idealizado pela ponta da pirâmide social, ignorando quem está nas camadas inferiores; nós.

    Yoshiharu Saito (Diretor)

    Instituto Ambiental Conservacionista 5º Elemento

    ResponderExcluir
  2. Sonho que Nova Iguaçu trabalhe efetivamente com Educação em Direitos Humanos.
    Um grande e respeitoso abraço!
    Patrícia Roif

    ResponderExcluir